No Bar do Zé, boteco antigo da Vila Bom Sucesso, em Senador Canedo (18 km de Goiânia), o cliente paga por uma dose de pinga, uma garrafa de cerveja e, se tiver interesse, por televisores, computadores, DVDs, jóias e celulares com um preço bastante acessível. O problema é que os produtos negociados eram, segundo a polícia, todos roubados. E pior, suspeita-se que o dono do bar, José Lourenço dos Santos, 74, o Zé Padeiro, e seu filho, Rodrigo José dos Santos, 24, aliciavam adolescentes com menos de 18 anos de idade para cometer os roubos e furtos.A polícia investiga a possibilidade de Zé Padeiro emprestar uma arma e uma bicicleta para cada menor que se dispunha a roubar uma casa ou chácara para ele. Menores apreendidos na quinta-feira, 1º, contam que no Bom Sucesso a garotada conhecia a fama do comerciante em fornecer um revólver em troca de produtos furtados. Um jovem de 18 anos, também preso na quinta, era um dos preferidos de Zé Padeiro, ainda segundo a polícia. Não por menos, foi apreendido mais de 20 vezes, quando menor.
Zé Padeiro foi preso na noite de quinta-feira, em flagrante, com o filho por receptação de material roubado. Os dois estavam no bar, um velho estabelecimento de poucos metros quadrados, sujo, com teia de aranha e bebidas amontoadas. Na casa dele, que fica aos fundos do boteco, foram encontrados 57 itens de origem suspeita, principalmente celulares (12), máquinas fotográficas (sete) e relógios de pulso (35). A delegacia de Senador Canedo foi “invadida” ontem por vítimas de roubos recentes na cidade. Todos queriam encontrar entre o material o bem levado por assaltantes juvenis.
Surpresa – O comerciante era investigado desde novembro último. Sua fama era conhecida há mais tempo. No bairro, os vizinhos demonstram surpresa, por Zé Padeiro ser um dos moradores mais antigos do local. Mas na delegacia depoimentos mostram que os menores infratores conheciam supostos segredos a respeito do dono do bar. Um menor diz que a arma usada na tentativa de assalto de uma chácara no Vale das Brisas (ocorrência que originou a prisão de todos) foi emprestada por Zé Padeiro. Outro afirma que Zé Padeiro era conhecido por emprestar a arma “em troca de umas paradas (produtos roubados).
Em depoimento, Zé Padeiro confirma que negociava objetos de valor sem saber a origem deles. Diz que “confiava” nas pessoas que lhe vendiam o material. Ele também conta que o comércio era feito no próprio estabelecimento. Seu filho afirma que nos últimos meses o pai ia até as casas dos clientes para vender o material, mas garante que não sabia que eram todos roubados. Sobre a arma encontrada na casa, dizem que era bastante antiga e servia para protegê-los.
O titular da delegacia de Senador Canedo, José Lindenor Felizardo, diz que pai e filho têm a ficha limpa na polícia, enquanto os adolescentes colecionavam passagens pela carceragem. “Os menores eram todos conhecidos nossos.” Zé Padeiro e Rodrigo foram autuados por corrupção de menores, receptação de produtos roubados, formação de quadrilha e porte ilegal de arma. Um outro inquérito foi aberto para investigar a suspeita de aliciamento.
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