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terça-feira, janeiro 09, 2007

Cicarelli sonega à internet o que deu sob o Sol

A era da informação instantânea deu notoriedade hedionda a um tipo nefasto de ser humano: o “desconhecido íntimo”, também conhecido como “celebridade”. Dedica-se a conspurcar a privacidade alheia. Impõe-se à vida de todos, como se tudo o que lhe ocorre fosse de interesse geral.

Tome-se o exemplo de Daniela Cicarelli. Fez de sua fluida existência um sólido espetáculo. Namorou Ronaldo espetacularmente, casou-se espetacularmente com o jogador, separou-se espetacularmente dele e retomou sua vida de solteira espetacular. Pôs-se a arrumar novos namorados.

Com o último deles, Renato Malzoni, meteu-se (ou foi metida) num episódio, de novo, espetacular. A dupla trocou carícias íntimas numa praia. O casal foi, por assim dizer, às vias de fato sob as águas cálidas do mar de Espanha. Gostosamente capturadas pelas lentes de um cinegrafista local, as cenas ganharam a internet.

Tomada de um recato tão súbito quanto atrasado, Cicarelli recorreu aos tribunais. Como se houvesse mantido relações sexuais no aconchego de seu quarto, pretextou o direito à privacidade. E requereu da Justiça que proibisse a exibição do vídeo revelador.

Há três dias, a Justiça ordenou a provedores brasileiros de internet que vedassem aos o acesso ao vídeo revelador. E os usuários do IG, do IBest e da BR Turbo, algo como 5,5 milhões de internautas, tiveram bloqueado o acesso ao YouTube, o mais popular sítio de imagens do mundo.

Pergunte-se: a privacidade de uma personagem que se permite transar sob a luz solar vale a escuridão de 5,5 milhões de internautas? O signatário do blog acha que não. O repórter avalia, de resto, que a providência da Justiça traz o olhinho puxadinho. Em matéria de crescimento econômico, continuamos levando um banho da China. Mas em termos de obscurantismo cibernético, já estamos matando a pau, como se diz.

Costuma-se execrar fotógrafos e cinegrafistas que se dedicam à caça de celebridades. E o que dizer das pessoas que invadem a privacidade das lentes? Como qualificar aqueles que não comparecem a nenhuma festa ou restaurante sem certificar-se de que fotógrafos e cinegrafistas estarão por perto? Como classificar os que dão a vida pela oportunidade de invadir os lares alheios como se fossem íntimos de todas as famílias?

Mencione-se, por oportuno, que a cópula praieira rendeu a Cicarelli, para além da superexposição, uma providencial valorização do passe. Quem pode garantir que a ação judicial não visa senão o prolongamento de uma polêmica, digamos, tão rentável?

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