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terça-feira, janeiro 30, 2007

Sobre pedras, promessas, inação e desconversa



Quando Lula e o PT chegaram ao poder, em 2003, descobriram que já não havia na cena política brasileira nenhum pecado original. Puseram-se, então, a cometer velhos pecados. Repetiram vícios praticados sob FHC, Collor, Sarney e um enorme etc.
Pilhado, o petismo passou de atirador a alvo. Para esquivar-se das pedras, Lula disse que os erros não eram nem de indivíduos nem de partidos, mas do sistema político apodrecido. Na pele de candidato à reeleição, disse que, reconduzido ao Planalto, viraria o sistema do avesso.
O vídeo acima exibe discurso feito por esse Lula candidato, no dia 23 de setembro de 2006, na cidade pernambucana de Olinda. Ouve-se a voz de um político determinado. Fala em alterar até mesmo, veja você, os regimentos internos da Câmara e do Senado.
Pois bem, Lula juntou pedras e votos e logrou reconstruir o seu castelo. Mas, devolvido à cadeira de presidente, já não parece tão empenhado em reformar coisa nenhuma. Muito menos a política, ainda sob escombros.
No ano passado, ecoando o presidente, o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) referia-se à reforma política como a “mãe de todas as reformas”. Teria de preceder qualquer outra iniciativa do novo governo, fosse ele chefiado por Lula ou por Geraldo Alckmin.
Na semana passada, falando ao blog, Genro disse que as reformas política e tributária continuam sendo essenciais para o país. Mas já não as considera assim tão fundamentais para o novo governo. Diz que Lula passará muito bem sem elas nos próximos quatro anos.
Política e tributos constam da pauta do encontro que Lula terá com os governadores em 6 de março. Ao afrouxar o discurso, o governo contribui para que a conversa resulte em mero lero-lero, em desconversa. Uma pena.
A assessoria de Genro está elaborando um rol de pontos passíveis de reformulação na esfera política e partidária. O ministro diz que o texto será entregue aos novos presidentes da Câmara e do Senado. Caberá ao Legislativo, segundo o ministro, decidir se implementa ou não as modificações.
A experiência mostra que, num regime como o brasileiro, presidencialista, o ritmo do Congresso é ditado pelos humores do Executivo. Assim, ou Lula põe mãos à obra ou a coisa não anda. O governo corre o risco de desperdiçar a sua hora. Perdendo o viço de uma autoridade recém-renovada nas urnas, o que já é difícil tornar-se-á impossível.
Ao apossar-se do primeiro mandato, em 1º de janeiro de 2003, Lula já havia prometido reformar o mundo (veja no vídeo abaixo). Assegurara que travaria guerra sem trégua conta a corrupção. Reconstruiria os modelos político, tributário e até o trabalhista.
No curso de sua primeira administração, Lula conviveu com a corrupção. E só conseguiu reformar o Palácio da Alvorada. Assim mesmo porque os grandes empreiteiros entraram com a grana. No ritmo em que as coisas caminham, a campanha de 2010 promete. Os problemas serão os mesmos. Os discursos também.

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