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sábado, março 10, 2007

Como previsto, Bush mantém sobretaxa ao álcool

Encontros de presidentes são como espetáculos teatrais. Há um enredo elaborado previamente. Só depois de muito ensaio é que os protagonistas entram em cena. Assim foi, também, com George Bush e Lula.
Bush passou 24 horas em São Paulo. Nada saiu do script. O tema central da peça era o etanol. No papel de exportador, Lula pediu a eliminação da sobretaxa que os EUA impõem ao produto brasileiro (US$ 0,54 por galão; ou R$ 0,30 por litro de álcool). Fiel ao roteiro, Bush disse "não".

Lula sabia, de antemão, qual seria a resposta. Fez o pedido como parte da coreografia. A poda da sobretaxa ao álcool é uma mercadoria diplomática que Bush não pode entregar. Foi imposta por lei do Congresso norte-americano. Vai vigorar até 2009. Se bobear, será renovada na seqüência.
Os EUA também produzem etanol. Como o clima não permite o cultivo da cana, seus produtores extraem o combustível do milho, a custos mais elevados. Não têm o menor interesse em facilitar a vida da concorrência brasileira. Têm um forte lobby no Congresso, liderado pelo senador Charles Grassley, conhecido como o "xerife" do etanol.
Ainda que, Bush não teria como atender ao pedido de Lula. Seu partido, o Republicano, está em minoria no Congresso. De resto, padece de um mal incurável: a síndrome do fim de mandato. Seu mandato termina no ano que vem. O processo sucessório já bate à porta da Casa Branca.
O presidenciável Barack Obama, estrela ascendente do favorito Partido Democrata, também declara-se favorável à manutenção da sobretaxa imposta ao etanol brasileiro. Ou seja, o Brasil pode espernear como bem entender. Mas a causa é perdida.
Deu-se coisa semelhante no trecho da peça reservado à encenação da Rodada de Doha. Trata-se da queda-de-braço que países, de um lado, e nações em desenvolvimento e pobres, de outro, travam na OMC (Organização Mundial de Comércio).
A periferia pede aos ricos que reduzam os subsídios que concedem aos seus agricultores. Lula, um dos líderes do bloco periférico, reforçou o pedido. E Bush, líder máximo dos ricos, negou. Fechando o teatro, os dois presidentes declararam-se otimistas quanto à obtenção de um acordo. Quando? Ora, não façam perguntas complicadas.
Noves fora o jogo de cena, a visita de Bush rendeu a Lula uma parceria com os EUA para desenvolver pesquisas na área de biocombustíveis. Uma ótima notícia. Planeja-se desenvolver o produto inclusive em outros países. Bush disse que o governo norte-americano vai investir US$ 1,6 bilhão nos próximos 10 anos no desenvolvimento de fontes alternativas de energia.
"Já investimos US$ 12 bilhões em novas tecnologias que vão permitir alcançar independência econômica e um ambiente de melhor qualidade. Espero poder fazer isso juntos. Aprecio o fato de Brasil e EUA desenvolverem juntos essas pesquisas", disse, dirigindo-se a Lula. Instado a manifestar-se sobre Hugo Chávez, Bush saiu pela tangente. O presidente venezuelano, uma espécie Fidel Castro com petrodólares, trilhou caminho aposto. Cumprindo um roteiro de viagens urdido para fustigar o Bush, o presidente venezuelano chamou o desafeto de “cadáver político”.
Chávez alvejou Bush em ato público na Argentina, país excluído do périplo do rival norte-americano. Neste sábado, Chávez viaja para a Bolívia-companheira de Evo Moraes. Bush seguiu, nesta sexta (10), para o Uruguai. Aguardava-o em Montevidéu um mega-protesto.

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