Páginas

quarta-feira, abril 11, 2007

Igreja no Brasil tem apenas 2,5% de bispos negros

“Graças a Deus sou negro”, costumava dizer Desmond Tutu, o bispo sul-africano, no auge da era do apartheid. “Os brancos têm muito que responder no Juízo Final.” No Brasil, Tutu ainda é atual. É grande a fila dos que têm contas a acertar no dia do fim do mundo. Nela estão alinhados inclusive os hierarcas da Igreja de Roma. Eis uma das perguntas que terão de responder ao Senhor: “Por que discriminaram tanto os negros do Brasil?”

Segundo compilação feita pela CNBB, apenas 11 dos 434 bispos que servem à Igreja Católica no Brasil são negros. No país da miscigenação, em que 45% dos habitantes trazem a África impressa na epiderme, os bispos estrangeiros, todos de uma brancura nórdica, somam 21% da cúpula da Igreja. Os negros, só 2,5%. Repetindo: 2,5%. De novo: 2,5%.
A que se deve o fenômeno. Em entrevista à repórter Valquíria Rey, o bispo Gílio Felício, responsável pela Pastoral Afro-Brasileira da CNBB, arriscou uma resposta: "Houve uma época em que os negros tinham dificuldades em ingressar nas congregações religiosas. Depois que isto acabou, ficaram os condicionamentos. Hoje, o país conta com cerca de mil padres negros. O número diminuto deles acaba determinando esta pequena presença de afrodescendentes no episcopado."
Valquíria Rey refresca a memória: “Enquanto os abolicionistas lutaram pelo fim da escravidão desde a Independência do Brasil, em 1822, a Igreja Católica só divulgou a encíclica do papa Leão XIII condenando a escravidão em junho de 1888, um mês depois da Abolição. Nas primeiras décadas do século passado, a discriminação permaneceu, com os seminários brasileiros vetando a entrada de noviços negros e mulatos.”
Mais: “Somente alguns anos depois da aprovação da Lei Afonso Arinos, em 1951, punindo todas as atitudes de discriminação racial, as congregações religiosas tiraram oficialmente de seus estatutos e normas internas a proibição de acesso para os negros.”
O signatário do blog agrega uma outra passagem. Deu-se em 1849, nos arredores de Vitória (ES). Arregimentou-se um grupo de 200 negros para reformar a Igreja de São José do Queimado. Cederam a mão-de-obra em troca da promessa de que seriam alforriados.

Inaugurada a Igreja, esqueceu-se a libertação de seus construtores. Os escravos fugiram. E como fugitivos foram caçados. Recapturaram-se 36, dos quais 30 amargaram a punição de mil açoites e seis deveriam ir à forca. Dois lograram fugir novamente. Um teve o pescoço apertado na corda.
A Igreja deveria instituir em seus seminários brasileiros uma cota para negros. Poderia chamá-la de cota São José dos Queimados. Em sua visita ao Brasil, marcada para 9 de maio, o papa Bento 16, que traz na biografia um flerte com o nazismo, anunciaria a novidade. Com pompa, circunstância e infinita misericórdia.

Nenhum comentário: