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segunda-feira, abril 16, 2007

Jader troca uma TV encalacrada por TV sem dívidas


Na noite da última quarta-feira (11) Lula participou de um memorável jantar com a fina flor do PMDB. Em discurso, serviu aos comensais o pouco que restava de sua coerência política. A pretexto de agradar o neo-aliado, derramou-se em elogios. Afagou inclusive os personagens que, no passado, o petismo esmerava-se em apedrejar.
O presidente perguntou: "Qual cidadão de pensamento progressista em 1974 não votou no Quércia para senador? Quem é o progressista que, em 1978, não votava em Jader Barbalho no Pará para deputado federal?" Nunca na história desse país alguém exibiu tamanho esforço retórico para prover prontuários limpos a políticos de biografia tão, digamos, poluída.
Neste final de semana, soube-se que, ao menos no que diz respeito a Jader Barbalho, os esforços do governo para refazer o passado vão muito além do discurso. Em reportagem de Otavio Cabral, conta que, em transação concluída no dia 21 de dezembro de 2006, Barbalho livrou-se de uma dívida de R$ 82,4 milhões que amealhara à custa de seu passado bandalho.
O deputado deve a façanha ao auxílio-companheiro do governo Lula. Deu-se o seguinte: com a autorização de um Ministério das Comunicações chefiado pelo senador licenciado Hélio Costa (PMDB-MG), Barbalho logrou transferir a concessão da TV Bandeirantes no Pará, a terceira maior audiência do Estado, da empresa Rede Brasil Amazônia de TV para a firma Sistema Clube do Pará de Comunicação, da qual tornou-se sócio.
Tudo estaria dentro dos conformes, não fosse por um detalhe: a Rede Brasil encontra-se imersa em dívidas com o fisco, a Previdência e o FGTS. O Sistema Clube Pará opera num azul de dar inveja. Ao transferir para a segunda toda a rendosa atividade da primeira, o deputado deixou o governo na incômoda posição de ter de cobrar mais de R$ 80 milhões de dívidas de uma organização sem faturamento.
Ou seja, a hipótese de que o contribuinte venha a ser ressarcido de todos os prejuízos que o empresário Barbalho impôs aos cofres do Tesouro é próxima de zero. O grosso do contencioso do deputado para com o Estado resulta de uma série de autuações lavradas pela Receita Federal. Os auditores fiscais varejaram os livros da Rede Brasil depois que Barbalho, sob FHC, barbarizou a mais não poder na Sudam.
Enquanto a maleabilidade ideológica de Lula freqüentava apenas o universo dos discursos, os prejuízos limitavam-se ao sacrifício da coerência de um presidente sem norte. No instante em que a fluidez retórica de Sua Excelência invade os cofres do Estado, a coisa passa a interessar a todos os brasileiros em dia com o fisco.
Não foi por outra razão que o procurador Rômulo Moreira Conrado, do Ministério Público do Distrito Federal, decidiu meter a colher no pudim. “Com certeza, tudo foi feito para que a emissora continue operando sem pagar suas dívidas”, diz Conrado. Ele prepara uma ação civil contra o deputado. Alvíssaras!

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