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sábado, novembro 10, 2007

Opinião - Reforma nas bases políticas

Cumpriu-se o prometido. A reforma anunciada pelo governo tem a medida exata do infortúnio vivido pelo Estado, segundo, claro, a percepção criada nas últimas semanas pelo próprio governo a respeito da situação financeira que herdou – uma situação de quase falência da máquina pública. Neste ponto, não há o que falar, a não ser que se cumpriu também o que poucos acreditavam que seria cumprido: a disposição de tomar medidas duras, e não de promover maquiagem política, como de costume nessas ocasiões.Passada a perplexidade inicial, a pergunta imediata que mais se ouviu, de políticos e jornalistas, foi esta: terá o governador Alcides Rodrigues (PP) peito para de fato levar até o fim o que se propõe, diante da reação negativa na base aliada que as mexidas tendem a provocar? A melhor resposta talvez seja uma outra pergunta: terá coragem o governador, depois de criar a expectativa que criou e anunciar o que anunciou, de recuar por pressão, sendo que nessas hora pressão é uma reação altamente previsível?Argumento lógico é o de que a desmoralização no recuo seria maior que qualquer outra. Mas nem é preciso ir por aí. O comportamento do governador nos últimos meses – mais certo dizer: na sua vida política – é o melhor avalista para o futuro desenhado.

Não há dúvida de que ele marcou um rumo e, até agora, tem-se mantido nele, doa a quem doer. Por que seria então diferente? A questão fundamental neste momento é outra. É saber o que fará o senador Marconi Perillo (PSDB).Inegável que o diagnóstico do governo joga sobre o finado Tempo Novo, marca identificadora de seus dois governos, a grande responsabilidade pelos males do Estado. São, mostra este diagnóstico, quase R$ 21 bilhões de dívida, muito mais do que se ouviu Marconi propagar. Sem falar nos prejuízos – é que se pode entender do que foi anunciado –, que a farra dos incentivos fiscais provocou nos cofres públicos, e na demagógica compulsão para aumentos deliberados ao funcionalismo (nada contra aumentos, mas quanto à forma). Tudo feito nos últimos oito anos.No PMDB, a avaliação da manhã seguinte ao anúncio da reforma era a de que o rompimento entre Alcides e Marconi já não se configurava mais “iminente”, e sim “incontestável”. Há aí, evidentemente, muito mais torcida do que avaliação isenta. Marconi poderá alegar em sua defesa que tocou seus governos em co-responsabilidade com o próprio Alcides, seu vice nas duas vezes. Mas sabe-se que esta é apenas uma verdade conveniente.O senador exerceu o poder em sua plenitude. Não dividiu senão, um pouco, com os seus (e seria coincidência que justo os seus sejam os que mais perdem espaço na nova ordem administrativa?). Portanto, argumento será frágil.

Não consta que Alcides revele o duro painel financeiro do Estado só para espezinhar Marconi, ‘provando’ que os dois estão verdadeiramente em rota de colisão. Não é de seu feitio. Mais indica fazer o que acredita ter de fazer. Se assim entender o senador, poderá relevar agora tudo e deixar, com astúcia, por exemplo, para reagir lá na frente, depois das eleições municipais. Mas se decidir romper agora, inevitavelmente tornará mais ampla, e acelerará, a nova ordem política que se forma em Goiás. Uma ordem que não está mais polarizada em base aliada x PMDB. Uma outra história.E não tenhamos dúvida: se o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, é o técnico em ação, o articulador político do governo não terá de ser outro senão o próprio governador. Principalmente aos dois caberá o ônus e caberão os bônus. Quanto aos aliados que ficarem com o governador – entre os quais os da Assembléia Legislativa, que deu o aval para a reforma –, impõe-se a questão: melhor um governo fraco em ano de eleição ou um governo fortalecido e em obras, ainda que o sacrifício no curto prazo seja o corte na carne?Se a resposta for pela segunda parte da questão, logo se haverá de concluir: os aliados são homens de fé. Deus e o governador os projetam.

Vassil Oliveira articulista da Tribuna do Planalto e comentarista da Rádio 730.
Seu blog é www.vassil.com.br

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