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quinta-feira, dezembro 07, 2006

É preciso ser preto para jogar bem futebol?

Georges Frêche, um dos caciques históricos do partido socialista francês, gosta de abrir a boca para dizer bobagens ou para provocar polêmicas, dependendo do dia e de seu humor. Já atiçou a ira das comunidades muçulmana e israelita com declarações racistas, tendo no final que voltar atrás e pedir desculpas. Esta semana, recomeçou, afirmando que "a seleção francesa de futebol conta com nove jogadores negros em 11, e isto é demais. A regra deveria exigir que o número de jogadores de cor não fosse mais que três ou quatro. Só assim a seleção seria representativa da composição étnica do país. Acontece, porém, que os brancos são uma nulidade, não sabem jogar".
Racismo no futebol não é propriamente uma novidade. Mas quando o sujeito que critica a presença de tantos crioulos na seleção é um ex-ministro, atualmente presidente de uma das regiões mais importantes do país, a Languedoc-Roussillon, reclamar da cor da pele dos craques nacionais pega muito mal. Georges Frêche foi convocado pela diretoria do partido para um acerto de contas e corria o risco de ser demitido. Esperto, achou rapido uma saída: aceitou que fosse criada uma "delegação regional dos direitos humanos" cuja missão será, no futuro, "lutar contra o racismo em Languedoc-Roussillon". Mas ninguém sabe o que fará de fato a tal delegação, que não tem poderes para impor ao ex-ministro regras de comportamento politicamente corretas.
a justiça francesa não vai virar a página, não. O tribunal de Montpellier abriu inquérito para verificar se as declarações de George Frêche são mesmo racistas. Se forem, será processado porque racismo é um crime severamente punido na França desde o final da segunda guerra mundial.
Aparentemente, todo o mundo quer abafar a polêmica : Pascal Clément, ministro da Justiça, discutindo o caso com os deputados no Parlamento, afirmou que oficialmente "só existe uma cor na seleção francesa: a cor azul". O mais engraçado nesta história é que nenhum jogador, branco, preto ou café com leite quis assumir posição. Os brancos poderiam reclamar por terem sido qualificados de incompetentes e os pretos por serem estigmatizados por causa da cor da pele, já que são cidadãos franceses com os mesmos direitos e deveres de 54 milhões de pessoas neste país.

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