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quinta-feira, maio 03, 2007

“Eu mesmo matei o Kajuru”


Apresentador deixa apelido de lado e denomina-se hoje Jorginho por ter sublimado sensações ruins. Ele afirma que problemas de saúde contribuíram para mudança interior
Alterações no organismo fizeram com que o apresentador e comentarista esportivo Jorge Kajuru buscasse mudanças internas. Hoje, lida com a perda da visão do olho direito, transtorno bipolar, diabetes e acúmulo de gordura no coração. “A boa lição que tirei dos meus problemas de saúde é que virei Jorginho, eu mesmo matei o Kajuru dentro de mim. Eu sublimei as coisas ruins dentro de mim. O contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença”, disse em entrevista exclusiva ao DM por telefone. Morando em um flat em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, ele ingere diariamente 16 remédios, seis para transtorno bipolar. “Eu não estou bem de saúde, descobri uma coisa que nem imaginava que um dia teria. Tenho transtorno bipolar, que é doença causada pela ausência de lítio no cérebro. Hoje, tenho só 2% dessa substância. Não é uma doença fácil, descobri esse problema pelo qual você vai da euforia à depressão.”Com 30 anos de carreira, diz que deixou a apresentação de programa esportivo no SBT por pressões externas e, hoje, comanda o programa esportivo Kajuru na Área, transmitido no interior paulista pela mesma emissora. Com dificuldades financeiras, dispensou seus advogados. “Não dou conta mais de pagar advogado. Agora, só me defendo com advogado público”, diz ele em relação aos processos criminais e civis que enfrenta.Entraves profissionais, jurídicos e de saúde não causaram surpresas ao apresentador. “Tudo que acontece hoje foi absolutamento previsto. Há 30 anos, sabia o que iria me acontecer caso eu caminhasse para ser um jornalista sério.” As dificuldades não o impedem de buscar novos vôos. Ele diz não ter planos futuros, mas sonha em voltar para Goiás e montar uma rádio. Confira a seguir entrevista na íntegra.
Saúde
Eu não estou bem de saúde, descobri uma coisa que nem imaginava que um dia teria. Tenho transtorno bipolar, que é doença causada pela ausência de lítio no cérebro. Hoje tenho só 2% dessa substância. Tomo 16 remédios por dia, e destes, seis são para reforçar a quantidade de lítio. Não é uma doença fácil, descobri esse problema pelo qual você vai da euforia à depressão. Não se trata de tristeza. Além disso, tenho uma placa gordurosa na carótida (vasos sangüíneos que levam sangue arterial do coração). Paralelo a isso, fiz cirurgia para tentar reverter um deslocamento da retina no olho direito, não obtive resultados e perdi a visão. Fiz seis cirurgias para colar a retina e nenhuma deu certo. Agora, tenho que encarar a nova realidade. Perder o olho direito para mim não foi uma tragédia. A gente vê tantas pessoas que perderam pernas, braços felizes. O doloroso neste processo foi gastar o dinheiro que gastei e não adiantar nada. Eu aceito a vida e as decisões de Deus como elas são. Já enxerguei tudo o que queria enxergar.
Visões
Os piores momentos da minha visão foram em Goiás, evidente. Porque é um Estado onde brigam os homens, e não as idéias. Enquanto houver isso em Goiás, será difícil haver sol neste Estado. Além disso, é engraçado olhar as situações históricas pelas quais passei: tive 16 pontos de audiência na mesa-redonda que fiz no SBT após a Copa. Foi recorde de audiência na história do País em mesas-redondas. As melhores que vi na minha vida também foram em Goiás. É um período que me dói, mas também me alegra. Não me entusiasmo com as coisas nacionais. Não falo da Rádio K, nem me lembro mais da Rádio K. O que me faz lembrar com alegria de Goiás é o povo, os meus ouvintes. Percebi que eles são mais amigos meus do que os amigos que andavam comigo e que me apunhalaram pelas costas, me sacanearam e me traíram.
Mudança
A boa lição que tirei dos meus problemas de saúde é que virei Jorginho, eu mesmo matei o Kajuru dentro de mim. Hoje, consigo deletar as coisas ruins. Eu sublimei as coisas ruins dentro de mim. O contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença. Tem pessoas em Goiás das quais nem lembro mais os nomes. Fiz promessas de nunca mais citar os nomes delas. As piores pessoas que vi por aí chego a não citar os seus nomes há mais de oito meses. Mas tenho certeza de que essas pessoas vão prestar contas aqui na Terra. A balança de São Gabriel delas será aqui.
Certeza
Hoje, tenho certeza de que o povo de Goiás sabe que tudo o que antecipei era verdade. E a parte que ainda discorda de algo que alertei, logo vai concordar. Muita coisa vai aparecer, e eu vou assistir de camarote. A única coisa que me dói ao relembrar de Goiás é não conviver com o povo goiano. Hoje, ir para Goiás é muito difícil, chego no aeroporto e choro. Saí do Estado em meio a uma injustiça. Fui o jornalista mais injustiçado da história de Goiás. Prestei um serviço a Goiás sobre jornalismo investigativo que nunca mais haverá com a veracidade com que fiz. Até porque é dífícil ousar; quem arriscar pode até morrer. Neste caso, o problema não é ser ameaçado, o medo é de quem não ameaça. Cheguei a um ponto que, no dia 29 de setembro de 2000, Juca Kfouri, Ivan Lins e o Datena chamaram-me e disseram que, caso que não saísse de Goiás, eles romperiam comigo. Achavam que não era justo o que eu estava passando. Decidi, então, largar e esquecer tudo. Sai de Goiás como cheguei no dia 10 de novembro de 1979, sem nenhum centavo no bolso. Não me arrependo de ter deixado Goiás. Me arrependo de Goiás ter me deixado sair. Sei que hoje quem se arrepende são as pessoas, que vão cada vez mais sentir a minha falta.

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