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quinta-feira, setembro 13, 2007

A reforma do DM


A reforma do DM 1

O Diário da Manhã repetiu os erros de reformas passadas: esqueceu-se que tão importante quanto a reforma gráfica é a reforma editorial. Não houve modificações editoriais importantes, que possam levar o leitor a concluir: "Recebemos um novo jornal". Na verdade, a maquiagem dos diagramadores esconde um jornal com as mesmas características do jornal "anterior". Antes da reforma, era destaque na capa a miss vice-campeã mundial; depois da reforma, outra espécie de miss, meio vovozinha, ganhou fotografia imensa na primeira página: Adriane Galisteu. O que mudou? No caso, nada. Ou o DM se tornou mais Daqui do que DM? É provável que o sucesso de vendas do Daqui esteja atormentando o DM.


A reforma do DM 2

Solicitei a dois especialistas em design gráfico que examinassem a reforma do Diário da Manhã. Publico, a seguir, suas principais conclusões.

Em termos estritamente gráficos, a reforma é um retrocesso, pois ficou parecida com o projeto dos anos 80, quando o jornal foi lançado. A diferença está no número menor de chamadas, a fotografia de mulher e muita cor.

As reportagens ganharam uma hierarquia, que não existia no projeto gráfico recente, que era apelidado, entre diagramadores e editores de arte, de "samba do crioulo doido".

A profusão de cores ou matérias dentro de bandagens confunde o leitor. Os tons pastéis (mais para o amarelo) confundem-se com as retículas das fotos e dificulta a leitura. Não existe contraste entre a bandagem e a foto.

Os projetos gráficos contemporâneos de primeira página brinda o leitor com mais espaços em branco para evitar a sensação de "tumulto" de textos. O exemplo mais recente é o projeto clean da Folha de S. Paulo, no qual o Diário da Manhã parece ter se inspirado, com adaptações que diferenciam, aqui e ali, os projetos (o do DM tenta ficar entre o popular e o chique). Há a sensação, talvez intencional, de que o jornal de todo dia é jornal de domingo, uma edição mais leve, especial.


A reforma do DM 3

A página 2 mostra que o Diário da Manhã segue a tendência dos jornais contemporâneos: retrancas ou palavras-chaves que abrem cadernos ou assuntos determinados em destaque. As reportagens estão melhor posicionadas do que na primeira página. Os espaços brancos liberam as matérias daquela sensação de massa de letras.

A coluna Café da Manhã continua horizontal, com a fotografia do colunista maior do que o título da coluna. Um equívoco, pois o leitor é atraído para a foto e não para o título da coluna. Se o colunista fosse uma estrela, tudo bem.

O destaque com cerco ou quadro muito grosso, embora colorido, tumultua o visual da página. O excesso de cores tem a ver, certamente, com o fato de que o Diário da Manhã quer se apresentar como um jornal popular. Por incrível que pareça, há, sim, discordância entre a linha editorial preconizada pelo editor geral, Batista Custódio, e o jornal em si. Batista preconiza um jornal de opinião, mas o DM privilegia reportagens de comportamento e uso irrestrito de material fatual das agências de notícias.


A reforma do DM 4

Os diagramadores e editores de arte consultados dizem que a falha "mais gritante" da reforma do Diário da Manhã é o excesso de destaques coloridos. Na página 15 da edição de terça-feira, 4, é muito difícil ler o discurso do senador Demóstenes Torres. É muito difícil ler um texto com letras pequenas e fundo amarelo. Ademais, como se sabe, os leitores de jornal envelheceram e, muitos, usam óculos.

É possível concluir que, de fato, o DM fez uma reforma, mas não, como acredita, uma revolução.


A reforma do DM 5

Uma fonte do DM diz que a reforma, que estava em gestação há quase dois anos, foi elaborada pelo editor de arte do jornal, Jolmar Ferens.

A reforma é ruim? Não é. Mas, como disse, faltou a correspondente reforma editorial. O jornal continua o mesmo, em termos de conteúdo, e com uma cara semi-nova.


A reforma do DM 6

O Diário da Manhã tenta se apresentar como uma "oficina de idéias". Mas, retirando os artigos do jornalista Batista Custódio, onde está o grande debate de idéias do jornal? A rigor, o DM é um jornal tão fatual quanto qualquer outro. E, se continuar assim, será devorado, como qualquer outro jornal, pela rapidez da Internet. Por sinal, nenhum jornal goiano descobriu que a Internet é uma grande parceira para alavancar o jornal impresso. Quanto ao DM há um problema extra: sua página na Internet era muito boa, de acesso rápido, e agora é complicada e afasta leitores. Nem toda modernização é eficaz. O que é simples às vezes é mais funcional do que aquilo que parece sofisticado e moderníssimo.



Fonte: Euler Bélem, coluna Imprensa Jornal Opção

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